Após vinte e cinco dias de greve dos trabalhadores da Cobra Tecnologia, chega ao nosso conhecimento a mensagem do presidente da empresa, Jorge Wilson, que nas entrelinhas deixa claro sua intenção de remeter aos trabalhadores o ônus do movimento paredista. Surpreendentemente o Sr. Presidente abandona o anonimato para expor sua avaliação a respeito da greve que foi legitimamente deliberada pelos trabalhadores e devidamente organizada pela Fenadados.

Vale lembrar que o grande mérito da greve é que ela explicita as divergências, torna clara as pautas e, sobretudo, posiciona política e ideologicamente as partes. Essa lógica de luta entre patrão e empregado é básico na democracia, e sempre deixa como legado, implicitamente, o método de saída dos impasses ou de soluções duradouras para relações de trabalho que não se pautam por normas ou condutas que não admitem o contraditório. Em outras palavras, a greve busca fortalecer a democracia.

Temos na ordem do dia a defesa da qualidade do nosso plano de saúde que por sinal faz parte do ACT, que os senhores sequer levaram em consideração, e a luta contra o nepotismo levado a cabo por terceirizações sem as devidas licitações. A contratação irregular desvirtua o papel desses trabalhadores, ao induzi-los à disfunções, causando prejuízos na relação trabalhista.

Para recuperar o tempo perdido, a direção da empresa deve rever a postura intransigente, reconhecer como legítima as reivindicações dos trabalhadores, encaminhar com seriedade as licitações para contratação dos terceirizados, utilizar com responsabilidade os R$ 54,5 milhões concedidos pelo Banco do Brasil para revitalizar a Cobra, e por fim, ter a compreensão de que administrar uma empresa pública passa necessariamente pela transparência e pela aprovação da sociedade. Em última análise, a defesa da existência da própria empresa e de sua missão histórica só pode ser realizada com a participação e o devido respeito às leis e a dignidade dos seus trabalhadores e suas trabalhadoras.

Mais do que um jogo de soma zero ou negativa, nossas divergências se apresentam no terreno claro da defesa dos nossos direitos e, nesse sentido, somos de opinião que eles só podem ser realizados se a direção da empresa mudar o curso de sua administração, explicar claramente a que veio, caso contrário, inevitavelmente entraremos em rota de colisão. Não por gostarmos de confronto, mas por utilizarmos nosso poder de pressão em defesa não só dos nossos direitos, como da empresa como posto de trabalho e também do próprio patrimônio publico.

Fonte: Portal da Fenadados